O trauma NÃO é a última palavra!
- Rafaela Lima
- 1 de abr.
- 4 min de leitura
"Trauma", qualquer coisa que cause dor física ou emocional e deixe marca no decorrer da vida da pessoa.
Certamente, a experiência de lidar com traumas do passado é uma jornada desafiadora e profundamente impactante. Os ecos desses eventos dolorosos reverberam em nosso presente, muitas vezes obscurecendo a visão do caminho que escolhemos percorrer. Traumas, sejam eles físicos ou emocionais, têm uma maneira insidiosa de entrelaçar-se com a vergonha, criando laços difíceis de desatar.

Para o Dr. Paul Conti, MD da Universidade de Stanford e psiquiatria em Stanford e Harvard, “Muitas vezes o trauma tem uma forte ligação com a vergonha. A vergonha usa argumentos intermináveis para nos manter presas nas garras do trauma. Muitas vezes nos bloqueiam até mesmo de falar sobre o assunto ou de querer ver a situação”, ou seja, de ter a chance de ressignificar o acontecimento, o que só é possível quando temos a coragem de encarar a situação, nos dando a chance de curá-lo.
Quando digo curar, não estou falando de esquecer, mas sim de evitar que o fato traumático polua nossa visão sobre a vida, para, assim, termos clareza suficiente para levar a vida com mais leveza e sendo quem somos na essência.
É como se fosse um mapa desatualizado que, ao seguir, nos leva por caminhos mais longos e tortuosos, muitas vezes nos confundindo e nos deixando perdidas. O trauma não apenas nos transforma, mas também nos priva da capacidade de resgatar as partes positivas de quem éramos antes.

A sombra do trauma nos impulsiona para o isolamento, afastando-nos de novas experiências e diminuindo o prazer em atividades que antes eram fontes de alegria, nesse sentido, Dr. Paul afirma que “O trauma é muito mais silencioso do que um paquiderme gigante ou um brinquedo maluco que gira, sem percebermos, sequestra nosso sistema límbico, distorce nossas lembranças e muda nosso cérebro. Sentimos, pensamos, decidimos e agimos como nunca fizemos antes. Viramos pessoas diferentes, sem sermos capazes de rastrear essa diferença. É a suprema sabotagem.”
Sendo assim, a maneira como agimos no mundo reflete a lente pela qual enxergamos a vida, moldada pelo sofrimento passado. O trauma altera a essência do nosso ser, corroendo nosso senso de bem-estar e distorcendo nossa percepção do mundo e dos outros. No entanto, o trauma não é invencível; não determina nosso destino de forma incontestável.
Reconhecer, denunciar e enfrentar o poder do trauma é um desafio árduo, mas não impossível. Muitas vezes, estamos imersas nele sem compreender completamente sua extensão e os danos que causa. O trauma, a vergonha e a negligência têm o potencial de gerar doenças, disfunções e violência, contaminando não apenas nossa experiência pessoal, mas também o diálogo com a sociedade.
O Dr. conclui que,"o trauma gera mais trauma, e nos deixa com menos recursos, internos e externos, para combater seus efeitos. Perdemos um pouco a noção de bem-estar e passamos a desviar a energia para manter a hipervigilância, a evitar o não relacionamento que nos dão apoio, a largar a carreira dos sonhos por medo do fracasso."

O sistema límbico, apesar de ser afetado pelo trauma, não é o vilão. Com compaixão por nós mesmas e pelos outros, podemos transformar esse sistema em um aliado poderoso. Ao permitir que a compaixão floresça, podemos resistir aos efeitos devastadores do trauma e mudar nossa vida para melhor.
O trauma, se não tratado, pode gerar uma cascata de efeitos adversos, desde inflamação e dor crônica até doenças autoimunes, envelhecimento acelerado, depressão e ansiedade. No entanto, compreender o trauma e sua influência em nossas vidas nos dá as ferramentas necessárias para combatê-lo. Não precisamos conceder ao trauma o poder de moldar nosso destino; podemos, sim, trilhar um caminho de cura e transformação.
Eu não sou muito diferente de você, ao longo da vida passei por muitos eventos traumáticos e que achei que nunca iria superar, então, por vergonha e medo, eu escolhia não olhar para essas questões, achava que o sofrimento iria se resolver se eu não ficasse "mexendo", mas a verdade é que nunca passou, pelo contrário, tinha atitudes estranhas e não sabia o porquê. A virada de chave na minha vida, foi quando resolvi tirar a poeira de cima do baú e ver finalmente o que tinha dentro.
O Yoga, terapias, hipnoterapia, meditação, autoconhecimento, foram as ferramentas que utilizei para que hoje eu pudesse olhar para essas questões passadas e aos poucos ir tirando esse peso que venho carregando por anos.
Se engana quem acha que o Yoga são só posturas bonitas e complexas, isso representa uma pequena porcentagem do que é o Yoga. Quando digo que o Yoga foi a minha melhor escolha, é por que, por meio dessa prática tão potente, eu puder olhar para dentro de mim e me conectar com a minha essência novamente, reconhecendo o meu valor e toda a minha força, e me permiti ir atrás de ferramentas para ressignificar tanto sofrimento.
"O resultado do trauma é sinistro, mas não precisa ser assim. Quanto mais aprendemos sobre ele e sua ação em nossa vida, mais podemos combatê-lo. Não temos que dar passe livre ao trauma.”
Com Amor,
Rafa Lima
Fonte: CONTI, Paul, Trauma: a epidemia invisível; tradução Beatriz Medina. - 1ª ed. - Rio de Janeiro : Sextante, 2022.
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